terça-feira, 3 de novembro de 2015

Texto Reunião de Pais - 3º Bim

Muitos pais pediram a copia do texto lido na reflexão durante a Reunião de Pais do 3º Bim. Postamos aqui para que todos tenham o prazer de refazer ou fazer a leitura.

O MENINO QUE QUERIA SER CELULAR

Acordei com muita vontade de ser um celular. Moro com meu pai e minha mãe. Morar com eles, infelizmente, não garante que eu os veja muito. Meu pai está sempre viajando a trabalho. No final de semana, ele adora ver TV e acessar a internet e fazer ginástica. E minha mãe não viaja, mas está sempre fora de casa, também a trabalho.

Estudo à tarde. Almoço com minha tia. O chato nesses almoços é que ela fala muito ao celular e eu tenho que ouvir toda hora aquela musiquinha.

Isso não me incomodaria tanto quanto me incomoda se meu pai e minha mãe falassem comigo quando estão em casa: vivem grudados no celular. E eu escuto isso a todo minuto:

- Filho, psssiuuu, só um minutinho... A gente já conversa, ta? Filho, psssiuuu...

Mas como se faz para gente virar um celular?

Liguei para um 0800, um desses tantos atendimentos telefônicos que agora existem por aí. Fiquei na mesma, continuei menino.

Deitei na cama, me concentrei, me concentrei, tentando com o poder da mente, virar um celular. E continuei menino. Minha metamorfose de humano para celular não aconteceu. Mas ainda penso assim porque:


Celulares são muito mais avançados do que meninos, compreende? A gente não é de última geração. A gente vem sempre com os mesmos acessórios. Tá certo que menino oferece, pelo menos uma boa cartela de cores: tem menino branco, preto, amarelo, vermelho, mulato. Mas menino prateado eu não conheço. Nem dourado. Celular prata e ouro têm. Não têm? Quando percebi essa enorme diferença tecnológica entre meninos e celulares, entendi o óbvio: para virar celular, eu tinha que consultar um...celular. Assim, finalmente, eu teria respostas eficientes, objetivas e personalizadas.

Á noite, enquanto minha mãe dormia, entrei no quarto dela, peguei o celular e tentei puxar papo:
- Seu celular... Seu celular, ô seu celular... Insisti, insisti, insisti e silencio.

As lagrimas já brotavam dos meus olhos quando:

- Calma menino, calma. Já estou acordando. O que deseja?

- Eu quero ser celular. O que eu faço para ser celular?

- Serio? Você quer ser celular? Preciso preveni-lo de algumas coisas.

- Que coisas?

- Não é fácil ser celular hoje em dia. Os humanos exigem muito de nós. Mal temos tempo de nos dedicar a nossa família.

- Celular tem família?

- Pai, mãe, filho, filha... Irmão e só podemos comunicar entre celulares quando não estamos sendo exigidos por nossos usuários.

- Você se deu mal, seu celular! Minha mãe vive grudada ao telefone.

- Nem me diga! Minha filhinha anda chateada comigo. Somente quando há interferência nas ligações posso dizer “falo contigo depois, filhinha“ ou “querida, te amo“.

- Que tristeza! Enquanto quero falar com a minha mãe, você quer falar com a sua filha... E nenhum de nós consegue!

Pires, Marcelo e Lauret, Roberto. O menino que queria 
ser celular. São Paulo: Ed.Melhoramentos,2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário